São Bernardo do Campo / SP - terça-feira, 19 de março de 2024

Tratamentos psiquiátricos

Dicas sobre o tratamento psiquiátrico.

 

 

  • O tratamento psiquiátrico, do meu ponto de vista, começa mesmo antes de o paciente chegar. Apresentar um consultório aconchegante, agradável, com cores tranquilizantes, com decoração simples, ventilado, já é reconfortante para quem chega com qualquer tipo de sofrimento. A maneira como se é recepcionado, assim como a confiança do profissional que irá atender o paciente é um dos fatores observados pelos familiares e pelo próprio paciente na hora da consulta.

  • O tratamento psiquiátrico é o resultado final de uma consulta que demora conforme cada caso. Por isso é importante a coleta das informações a respeito da sintomatologia apresentada e o que motivou a consulta. Este processo é chamado de anamnese. Dados como antecedentes pessoais, dos familiares consangüíneos, exame físico, às vezes o exame neurológico, e por fim, o exame psíquico auxiliará o psiquiatra a interpretar todos estes dados levando-o à formulação de uma hipótese diagnóstica. Com isto pronto, a conduta médica ou tratamento terá início. É muito comum imaginar que o médico psiquiatra, por ser médico, já indicará o uso de alguma medicação. Isto não é de todo correto.

  • Algumas patologias têm a indicação de tratamento psicoterápico como o pilar do tratamento, enquanto que a medicação fica num segundo plano. Em casos moderados e/ou graves é evidente a necessidade da intervenção biológica do tratamento ou o uso de medicação psicotrópica ou mesmo a internação em clínica especializada. Casos como a "Depressão" utilizam-se antidepressivos e, algumas vezes e por um curto período de tempo, os benzodiazepínicos para reduzir a ansiedade (conhecidos como remédios de faixa preta). Nos casos de "Psicoses" utilizam-se os antipsicóticos. Nos quadros de "Ansiedade" é comum o psiquiatra optar pelo uso de antidepressivos em detrimento dos benzodiazepínicos pelo risco destes induzirem a uma dependência à medicação após longo período de uso.

  • Existem outras maneiras de tratamento no arsenal do psiquiatra e dentre eles ainda temos o ECT ou eletroconvulsoterapia (em desuso, mas ainda eficaz), novas técnicas como a rTMS (estimulação magnética transcraniana) e outros.

  • É evidente que cada tratamento deve ser personalizado, pois o que pode dar certo num paciente pode não ser eficiente em outro. Isto não há como prever. Cada organismo reage de uma maneira diferente às substâncias utilizadas, assim só se saberá se o tratamento deu certo após algum tempo de uso da medicação, o que poderá variar conforme a substância. Por exemplo, os antidepressivos demoram em apresentarem seus efeitos terapêuticos, mas demonstram suas reações adversas com mais rapidez. Os benzodiazepínicos e antipsicóticos têm uma ação mais rápida.

  • Esclarecer ao paciente e seus familiares sobre os efeitos colaterais e terapêuticos, explicar com detalhes o quadro psíquico, assim como o plano de ação terapêutica é muito importante. Abordar os efeitos terapêuticos assim como os indesejados dos medicamentos é mais importante ainda.

  • Os pacientes nunca devem suspender ou descontinuar o seu tratamento sem orientação médica, mesmo que já estejam se sentindo bem. É comum a recaída ou recorrência do quadro quando isto não é realizado de maneira adequada comprometendo todo o tratamento. O custo direto (sofrimento pessoal) e indireto (sofrimento familiar, trabalho, p. ex.) das recaídas é muito alto. Soma-se a isto os sintomas de descontinuação produzidos pela falta da medicação.

  •  Vale lembrar que o folclore popular pode prejudicar o tratamento por deturpar informações ou fornecer concepções errôneas e preconceituosas comprometendo a aderência ao tratamento. Frases como: "uma conhecida de uma amiga minha tinha a mesma coisa..." já é uma indução à crendice. Cada caso é um caso. Esta é uma máxima da Medicina. Não existem casos iguais. O médico tem que estar preparado para não se deixar seduzir pelo desejo do paciente ou de seus familiares por soluções instantâneas ou mágicas. Isso não existe. Tudo é um processo que leva um tempo. Esse tempo varia de pessoa para pessoa.

  • Uma outra crendice é aquela onde se ouve: "você vai ficar dependente do remédio...". Ora, quando alguém tem pressão alta ou diabetes ninguém faz esse comentário, muito pelo contrário. Mas quando se trata de medicamentos psiquiátricos esta frase é muito comum ser ouvida. O remédio é uma necessidade para uma determinada situação, que tanto pode ser transitória ou permanente. O que vai determinar que o indivíduo tenha a possibilidadede voltar a ser àquela pessoa que era antes de ficar doente muitas vezes será o uso ou não da medicação, pelo tempo que for necessário. Isso não é dependência, é necessidade! È claro que ninguém gosta de tomar remédio, nem os médicos! O mal uso dos medicamentos, ou seja o seu uso sem necessidade alguma mesmo, isso sim pode levar a uma dependência que é mais psicológica do que outra coisa.

  • Sempre que houver alguma dúvida, anote e leve a seu médico na próxima consulta. Não tenha vergonha de perguntar, ele está ai exatamente para lhe esclarecer.

Modificado em 26/05/2009 por Dr. Luis C. Bethancourt.